quinta-feira, 21 de julho de 2011

Reflexões sobre a Democracia Brasileira



A questão da democracia a um bom tempo tem feito parte de minhas reflexões. Eu sou de uma geração que nasceu e foi criada em plena ditadura civil-militar, minha Cidade, Volta Redonda/RJ, durante a maior parte desse período era tida como Área de Segurança Nacional e para agravar, a partir do ano de 1972, passou-se a não ter mais eleições diretas para Prefeito, ou seja, os sucessivos governos de minha Cidade eram indicados, pessoas comprometidas com a ditadura. Os adultos próximos de meu convívio, como meus pais e vizinhos, quando tratavam dessas questões falavam baixo, entre os dentes e principalmente não tocavam nesses assuntos próximos de nós crianças e adolescentes. Com o tempo soube que esses comportamentos não eram apenas dos mais próximos, mas, de tantos outros em minha Cidade e no Brasil. O medo, a intimidação e represálias rondavam a sociedade.

Em 1974 estava com 9 anos e me lembro das eleições que ocorreram nesse ano, mas naquele momento não dimensionava os seus significados. Lembro-me que eu e meus amigos de infância nos deliciávamos com aquelas bandeirinhas dos candidatos da ARENA, partido dominante e do MDB, partido oposicionista, tudo para nós era uma festa. A partir de 1977 começaram a aparecer algumas pichações nos muros, algumas trazendo mensagens sobre a anistia, mas não entendia nada ainda, porém, em 1978, meus pais já falavam mais abertamente algumas coisas, que começaram a me chamar a atenção e nesse mesmo ano houve uma greve dos trabalhadores das empreiteiras da CSN, (Companhia Siderúrgica Nacional), deu polícia para todos os lados, eu estudava em um colégio, próximo a CSN, o Barão de Mauá e presenciei aquelas tensões.
 
A partir dos anos 80 com a anistia, o retorno dos exilados, a reorganização partidária e a realização de eleições sucessivas e de diversos planos econômicos, a democracia no Brasil vem sendo colocada constantemente a prova. Superamos o arbítrio da ditadura, um forte sentimento de mudanças e liberdades veio à tona, mas, porém, ha certos nós que ainda não foram desatados e que me deixam apreensivo. A violência que paira sobre a sociedade, seja nas Cidades ou Campo, a Corrupção que graça sobre as Administrações Públicas, o Coronelismo Moderno, etc... Colocam a democracia brasileira em cheque.

Essas manifestações são antigas em nossa formação social, exemplos atuais não faltam,  como os recentes assassinatos de Juan, uma criança de 10 anos por Policiais Militares no Município de Nova Iguaçu/RJ, os constantes assassinatos de camponeses, de indígenas e ambientalistas por esse Brasil afora. Tais práticas geram instabilidades, tensões, que em se tratando de uma sociedade como a nossa, com fortes tradições autoritárias e antipopulares, tudo pode acontecer, temo pelos resultados que podem gerar. A ação do crime organizado, corrompendo e tirando a vida de inúmeras crianças, adolescentes e jovens, é outra grave ocorrência social.

Não é minha intenção ser pessimista, pelo contrário, creio que a democratização contínua da sociedade, é que nos permitira enfrentar tais situações a partir de uma real perspectiva social, mas, o cenário não é dos melhores, acreditar que a democracia brasileira esta madura e não vulnerável a contratempos é temeroso. Ampliar, a democracia, tendo como centro o fortalecimento da sociedade civil, desprivatizar o poder público em todas as suas esferas, uma luta sem tréguas contra a corrupção e as violações aos direitos dos cidadãos e reorganizar nossa relação com todas as formas de vida de nossos ecos-sistemas são desafios da democracia brasileira.

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