UmA sociedade brasileira que aspirou um forte clima democrático com o fim da ditadura do Estado Novo e com o Pós Guerra, viveu dias de sérios conflitos entre os anos de 1950 aos primeiros anos da década de 1960. Da forte agitação que tomou conta da Cidade de São Paulo com a famosa greve que levou a paralisação de cerca de 300 mil trabalhadores a perplexidade diante do suicídio de Getúlio de tudo aconteceu um pouco. Os golpistas de 1964 já conspiravam.
O suicídio de Vargas jogou um balde de água fria nas aspirações golpistas que haveriam de fazer um acerto de contas com a sociedade brasileira alguns anos mais tarde com o golpe civil-militar iniciado no dia 31 de março de 1964, a moda verde-oliva, ao som dos coturnos e baionetas. Uma triste e terrível tragédia se abateu sobre o Brasil, o que se viu a seguir foi uma sucessão de arbitrariedades.
Sobre as possíveis causas que levaram ao golpe que instaurou a ditadura há muitas análises e avaliações divergentes. Há posições que defendem que o governo de João Goulart foi um governo entreguista burguês que vacilou diante das pressões golpistas. Outro grupo de análises defende que houve durante o governo de João Goulart uma forte radicalização de esquerda que ao polarizar-se com a radicalização das forças conservadoras contribuíram para o seu desgaste e propiciasse o movimento golpista.
È um equívoco crer que as arbitrariedades instauradas com golpe se deram apenas para conter o avanço dos movimentos sociais. Suas ações nefastas se voltaram sobre toda a sociedade, quaisquer pessoas poderiam tornar-se suspeitas. As leis arbitrárias se estenderam a todos e não apenas as forças de oposição. Segmentos conservadores brasileiros aliados a interesses norte-americanos impuseram-se e ditaram as regras.
Outro equívoco a ser observado é relativo à análise da oposição realizada durante os governos militares. Há uma tendência de quando se trata desse assunto de se ater apenas as ações daqueles que optaram pelo enfrentamento armado. Isso, indiretamente leva água às tentativas dos golpistas de justificar a repressão como se ela tivesse ocorrido apenas contra as chamadas ações armadas e terroristas. Expressivos setores da chamada oposição democrática foram alvos da repressão e mais, pairava sobre toda sociedade a ação do Terrorismo de Estado.
O que possibilitou o fim da ditadura foi a conjunção de vários fatores, entre eles, um lento, desgastante e perigoso trabalho realizado por aqueles que optaram por um caminho de arregimentação de forças, de fortalecimento dos movimentos sociais, da valorização das liberdades democráticas e que acima de tudo não via na derrota da ditadura uma obra de pequenos grupos de vanguardas, mas, sim de um conjunto de ações coletivas imprimidas por toda sociedade.
Mesmo com os desgastes que foram sofrendo ao longo dos sucessivos governos militares, como se diz em uma expressão popular, os militares possuíam muita lenha para queimar. Tentaram impor uma abertura na qual eles continuariam no controle, qualquer deslize da oposição seria aproveitado. Após conseguirem barrar a emenda Dante de Oliveira que instituiria as eleições diretas para Presidente, o seu fim foi em função de um longo processo de negociação em que levou a luta para o último round no Colégio Eleitoral.
Ao Término de 20 anos de ditadura civil-militar no Brasil, o acerto de contas que promoveram foi trágico, um país endividado, inflação a pleno vapor, um saldo muito grande de dor pelos milhares de brasileiros perseguidos, mortos e desaparecidos. Vladimir Herzog, Manoel Fiel Filho, Rubens Paiva, David Capistrano, José Montenegro e a todos cuja ação terrorista do Estado brasileiro os atingiram, sentimos muito por suas vidas, um obrigado pelo exemplo de patriotismo e dedicação.
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