segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A Frente Democrática e o Cerco ao PCB, Olhos no Presente e no Futuro

Uma vez vitorioso o golpe civil-militar em 1964 e com a consolidação da ditadura fez-se necessário avaliar suas causas e pensar quais seriam os caminhos que levariam a sua superação. Estas discussões não seriam fáceis aos comunistas brasileiros. Em relação a esses dois aspectos não houve unanimidade e pelo contrário o que se presenciou foi uma fragmentação política e orgânica do PCB. O acerto de contas seria muito caro a esta organização, cuja direção se dividiu.

Duas tendências principais se confrontaram na direção do PCB, havia um setor expressivo composto por líderes como Carlos Marighela, Mário Alves, Apolônio de Carvalho e Jacob Gorender que defendia que o partido errou por sérios desvios de direita e foi demasiado conciliador, colocando-se a reboque da burguesia e do governo Goulart, outro setor do partido liderado por dirigentes de peso como Luís Carlos Prestes, Giocondo Dias, Armênio Guedes e Dinarco Reis defendia que os erros do partido foi justamente o de ter sido demasiado esquerdista, sectário, não avaliando a real correlação de força do momento, contribuindo para o isolamento do governo.

O que se viu a seguir foi uma sucessão de acusações mútuas que levaram a várias cisões nas fileiras do PCB. Organizações políticas como a ALN, o PCBR e o MR-8 surgiram neste contexto. Os seus membros fizeram a opção pelo enfrentamento armado à ditadura. Estas organizações envolveram-se em projetos de incentivos luta guerrilheira no Brasil. O PCB ao contrário optou pela formação Frente Democrática e condenou publicamente a luta armada. Esta opção possibilitou-lhe a se aproximar de outros importantes setores políticos e a atuar na organização do antigo MDB, Movimento Democrático Brasileiro, que veio a se constituir numa importante força da oposição democrática ao governo arbitrário da ditadura.

O caminho proposto por aquelas organizações que optaram pela luta armada teve um fôlego curto e não se constituiu enquanto uma opção viável. A maior parte destes grupos foi dizimada pelas forças da repressão em pouco espaço de tempo. Em contrapartida as eleições de 1974 foram fundamentais, pois se registraram importantes vitórias da oposição. Paradoxalmente foi neste período em que a Frente Democrática representada pelo MDB demonstrava sinais de vitalidade com os resultados destas eleições que o PCB um dos seus fundadores sofreu uma forte repressão que resultou em assassinatos e desaparecimentos de vários de seus membros, um terço de sua direção nacional foi assassinada pela repressão militar.

Após aniquilar as organizações guerrilheiras passou-se a montar o cerco ao PCB, pois era preciso quebrar-lhe a espinha. A sua orientação política de arregimentação de forças que se opusessem a ditadura e de fortalecimento dos movimentos sociais, confirmava-se justa e despontava como o melhor caminho de sua superação. Nesta orientação defendia-se que o regime militar não poderia ser derrotado, mediante as ações de pequenos grupos militarizados e ditos de vanguardas. Ao contrário o que poderia levar a derrota da ditadura seria a atuação      de amplos setores sociais em defesa das causas democráticas.

Os mentores do regime ao reprimir o PCB tinham em mente, também fragilizar a oposição já que este partido era um dos seus principais organizadores. A fragilização do PCB poderia levar a fragilização do MDB e fazia parte de um complexo plano que tinha “olhos no presente e no futuro”, pois visava limitar os possíveis processos de abertura do regime e minimizar suas influências na condução da redemocratização da sociedade.  




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